Era pra eu ter dormido na noite de sábado para domingo, mas quem disse que consegui? E quando o dia amanheceu, cheguei a pensar em desistir, mas estava combinado desde o meio da semana, tanto torcemos pelo bom tempo ser a favor, não podia dar uma de "dario" que de última hora muda de idéia, rs. Arrumei a bolsa, e às 9h22, estava eu pronta para tocar a campainha do... do... qual é o apartamento mesmo? Tirei o celular da bolsa pra ligar pro João e eis que o mesmo já aguardava a minha ligação, naquele exato momento, porque segundo ele "eu sabia que você não sabia o número do apê da Quel; é o 105, menina!"; "obrigada, João", e desliguei o celular, praticamente ao mesmo tempo em que ele chegou. Fer chegou em seguida. Quase todos prontos (exceto Dario, claaro!). Todos falando qualquer coisa sobre suas noites e eu lamentando e invejando o sono deles, perguntando-me se não dormiria na água e morreria afogada, rs. Enfim todos no carro, paramos no supermercado. Ai, e que parada!
O que se comprar para passar um dia inteiro entre uma cachoeira e um pesqueiro? Pão e mortadela, obviamente, com mais algumas outras tranqueiras e refrigerante, básico. Para desespero do João, demoramos mais que o esperado no supermercado, rs. E talvez, para o meu também: chegamos no caixa. Quem comandava o carrinho da compra? Sim, eu. Nos dividimos e ocupamos 3 filas diferentes, a mais rápida seria a escolhida, e foi a minha mesmo. Enquanto outra compra saía da esteira, fui depositando nossas coisas, para me livrar do carrinho, como sempre faço quando estou sozinha; na minha frente um casal passando apenas duas caixas de bombom, uma vez a esteira vazia, me senti na liberdade de ir colocando nossa compra, diferentemente do João, que se doeu pelo casal e soltou:
- Menina mais mal educada, vai empurrando as coisas em cima da compra dos outros...
Quem ouvisse, levaria a sério, mas eu sabia que era brincadeira e, pior, não pararia por ali. Não só eu sabia, todos, Fer, Dario e Raquel também, que reprimiu o risinho dela de quem fica sem graça pelos outros. Só sorri pra ele, e fiquei esperando dolorosamente o restante, que, direcionado ao casal, veio:
- Não repara, não, viu, moço?! A gente costuma colocá-la na coleira quando é pra passear assim, mas achamos que hoje ela se comportaria... Desculpa, viu?!
O próprio caixa do mercado arregalou os olhos, num riso comprimido. Dario já estava rindo um pouco mais e Raquel soltou sua risada anteriormente reprimida. E a Fernanda? Vermelha! Olhei sem graça pro casal, e acho mesmo que fuzilei o João quando o olhei (afinal, ele falava tudo em alto e bom som, pra quem quisesse ouvir, não se fazia de rogado). Para minha 'desgraça', o infeliz do rapaz disse:
- Nossa, amigo, depois dessa olhada acho que você vai ter que se acertar com ela depois... Olha a cara dela... vixi... - E ficou murmurando interjeições que intencionavam dizer que o João estava fudido, e que nos diziam seu pensamento: que John era meu namorado.
Como o João não é gente, e adora me deixar sem graça, rs, ao perceber a insinuação do rapaz, continuou:
- Que nada, é só a cara, ela não fica sem... É gordinha, mas isso na cama puuula...
Aah, pra quê? Exceto João, que continuou impassível, todos os que ouviram riam gostosamente: Raquel esqueceu seu decoro, sempre tão presente; Dario ria aquela risada da qual João não gosta, mas que é só dele; Fernanda se dependurava na prateleira ao lado do caixa e alternava em se segurar nos joelhos, tanto que ria; o caixa que atendia a todos nós e escutava curioso segurou a risada, por mera educação e ética de trabalho; e o casal não sabia onde enfiar a cara; não menos que eu, claro, no entanto eu ria muito e refletia na face o vermelho da camiseta que vestia. Ao sair do mercado, a risada foi ainda maior, de todos, inclusive João, e Fernanda me lembrou de não reclamar, porque ela previa coisa pior da parte dele. E não duvido.
Agora sim, a caminho de Echaporã, me diverti com a batata Ruffles que há tanto não comia, e mais ainda ao chegarmos no destino sem saber aonde ir, nem como se chegar.
- Então vamos parar aqui, em frente ao cemitério, porque é um ponto bom de referência, a Raquel liga pra mulher da prefeitura, pra se informar, e a gente fuma um cigarro. - disse o João.
No calor que estava, descer do carro seria um favor, porém a tal mulher não estava disponível, o que era de se esperar num domingo de manhã, né?! Pedimos informação sobre um pesqueiro a um que passava e fomos; se chegássemos lá, chegaríamos na cachoeira. Bastava sair do pesqueiro, passar o mata-burro, "virar não sei onde", seguir "reto toda a vida". Fizemos. Até o ponto em que o carro não andava mais, devido à areia do chão. Encostamos o carro, João se dispôs a ir andando pra saber se demoraria muito a chegar na cachoeira. Sim, demoraria. O jeito foi a Rá ir guiando, pro carro não ficar ao léu e nem tão longe de nós, o restante foi a pé. Ouvíamos água corrente, o único empecilho foi só não chegar nunca nela, rs. Daí o João se embrenhou no mato pra tentar "ver", e nada. Quando ele fez isso, já avisei:
- Se tiver que se embrenhar aí, tomo sol o dia todo no carro e bom divertimento pra vocês! (hehehe)
Por sorte, não tardou muito, achamos mais à frente. Tudo bem que não era exatamente o que esperávamos, como, por exemplo, uma cachoeira, mas era alguma coisa, rs. A menos que fosse chamada de cachoeira a queda d'água, com um metro, que havia da pedra onde estávamos até o buraco profundo de água verde e límpida abaixo. Não era o que se pode chamar de deleite aos olhos, mas sim era lindo, e só nosso por um dia todo. Digamos que desbravamos o lugar. Até quase "demos" o carro de brinde, no momento em que o Dario pulou na água com a chave pendurada na bermuda, foi uníssono:
- Dario, sai da água JÁ! - eu, João e Fernanda; Raquel estava espantada demais pra falar qualquer coisa. E quem disse que ele queria sair da água levar a chave pra cima? Confesso que era horrível sair, não havia apoio e me ralei toda, mas antes ele se ralar a nós termos de ficar sem um meio de sair do meio daquele nada, rs.
Nenhum de nós conseguiu alcançar pé no chão daquele lago, muito menos calcular o quão fundo poderia ser, ficamos curiosos, só que era o de menos. Apenas nos importava nós mesmos ali; nossa amizade e, particularmente no meu caso, a saudade que sentirei de dias como esses quando o fim for imposto pela distância física. Como sentirei falta destes novos (exceto pelo Dario, que é velho amigo) e tão queridos amigos. E veio a chuva interromper meu momento nostalgia.
Nos aprontamos às pressas pra sair dali, pois a chuva viria com força total, aparentemente. Num determinado ponto o carro não subia, por causa da mesma areia que o fez descer facilmente. Um pequeno momento de tensão e minutos depois estávamos no bar do pesqueiro, jogando tranca, até a chuva passar e ficar um pouco mais seguro pra pegar estrada. E aqui comecei a sentir sono e a falta de uma noite bem dormida, que obtive assim que cheguei em casa, após um banho ótimo.
Dormi, como há muito não dormia uma noite inteira (e mais um pedaço do dia de hoje): sonhei que era criança de novo, feliz, brincando num parquinho.
♪ Musicalité:
"Amigo é coisa prá se guardar
Debaixo de sete chaves, dentro do coração
Assim falava a canção..."
(Canção da América - Milton Nascimento)