quinta-feira, 27 de novembro de 2008

É sempre amor

   

   
Deparei-me com um comercial de televisão, numa dessas madrugadas à toa, (já faz um tempo que vem sendo exibida a propaganda, descobri depois ao comentar com uma amiga), cujo texto ‘cantado’ fala de rotina, um texto muito bonito por sinal, deve durar não mais que meio minuto, arrisco-me a dizer que talvez eu já tivesse visto a propaganda, porém não tinha parado pra ouvi-la.
É, vai ver foi isso.
   
As pessoas crêem que rotina, pelo simples motivo de se ter ‘sempre’, seja algo do qual se possa enjoar. E de fato, a princípio, talvez seja mesmo esse o significado da palavra rotina, uma coisa maquinal, nem por isso ter uma rotina tem de ser algo ruim. O texto da propaganda citada (que já nem me lembro do que era, o que não é de se espantar: eu me esquecer de algo – eu não era assim - enfim) mostra a rotina como uma coisa boa e bonita, saudável.
   
A idéia é a rotina do papel: Há que se concordar que nada melhor do que se ter papel (e caneta) em mãos pra termos idéias, sejam rabiscos, sejam palavras soltas, tente ficar com papel (e caneta) à mão e não fazer nada com eles. É quase que cientificamente comprovado como algo impossível, assim diria algum estudioso, se isso tivesse sido estudado, claro.
   
O céu é a rotina do edifício: O edifício é sempre o mesmo, mas o céu muda pra ele todos os dias, para os que acham que rotina é não ter nada de mudanças, isso mostra o oposto, mudar todos os dias pra agradar alguém pode ser um tipo de rotina.
   
O início é a rotina do final: Basta começar algo pra se saber que vai terminar. Saber? Eu disse ‘saber’? Não temos como saber isso. Mas é certo que se teve um final, um dia começou, e por que não tentar começar de novo, e de novo, e de novo?
   
A escolha é a rotina do gosto: Quem nunca fez uma escolha, crente de que era a certa, que resultou no mais amargo dos sabores, que atire a primeira pedra. E quantas escolhas mais foram feitas depois daquela? Rotineiramente fazemos escolhas, boas ou não, porém sem dúvida cada qual com um gosto diferente, e certamente todas têm seus dissabores, mesmo a mais acertada delas.
   
A rotina do espelho é o oposto: O bom e velho hábito de nunca estarmos satisfeitos com o que vemos no espelho, sempre enxergamos o que não tem, ou só o que queremos ver, e óbvio, pra quem olha nunca é o que se deveria ver mesmo. Clichê.
   
A rotina do perfume é a lembrança: A memória olfativa é algo tão inexplorado, no entanto é certeiro que nos desperte as melhores lembranças, por exemplo, no campo amoroso. Podem até ser lembranças tristes, só que um dia foram as melhores.
   
O pé é a rotina da dança: A valsa é a primeira delas, quase sempre, ou ao menos foi num tempo em que... bom, em algum tempo foi.
A rotina da garganta é o rock: E quem canta seus males espanta, é um fato, conforme-se. E cante, todos os dias.
   
A rotina da mão é o toque: Tente se lembrar do toque que mais lhe agradou até hoje. Lembrou? Agora diga a si mesmo o que não daria pra que aquele toque fizesse parte da sua rotina. Disse? Então não me digam mais que rotina não é bom.
   
Julieta é a rotina do queijo: E a goiabada agradece, com certeza, ou mal seria consumida?
   
A rotina da boca é o desejo: O desejo de falar, o desejo de tocar, o desejo de provar, o desejo de sentir, o desejo de calar, o desejo de beijar. Alguma pergunta?
   
O vento é a rotina do assobio: Cujo som os passarinhos se apropriaram.
   
A rotina da pele é o arrepio: Arrepio quando se fala, arrepio quando se toca, arrepio quando se prova, arrepio quando se sente, arrepio quando se cala, arrepio quando se beija. Alguma pergunta? [2]
   
A rotina do caminhão é a direção: Embora quem a decida seja o motorista, o que nos leva a crer que a escolha está nas mãos de quem dirige. Vai seguir sempre a mesma direção?
   
A rotina do destino é a certeza: Mas por via das dúvidas, peça ajuda aos universitários. Ou não. A um amigo, ou não. Aos seus pais, ou também não. Por via das dúvidas, apenas siga seu destino, ou não?
   
Toda rotina tem a sua beleza: Repitam, como um mantra: toda rotina tem a sua beleza.
   
♪ Musicalité:
"(...) estava com saudades, mesmo sem ter esquecido,
que é sempre amor, mesmo que mude.
Com ela aonde quer que esteja
é sempre amor, mesmo que mude.
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou."
(Mesmo que mude - Bidê ou Balde)

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